Ritual Emulação

O Rito de Emulação[1], também chamado RITO DE RECONCILIACÃO, com antecedentes de antiguidade indiscutível, foi estabelecido pela GRANDE LOJA UNIDA de Inglaterra no ano de 1813, por ocasião da União das duas Grandes Lojas existentes. O seu nome provém da “Emulation Lodge of Improvement”, encarregada de preserva-lo em toda a sua pureza, numa época na qual não se permitiam Rituais[2] escritos.

A palavra Emulação, no conceito maçónico, significa seguir o exemplo, imitar. Seguir o exemplo no sentido de reproduzir as cerimónias maçónicas praticadas pelos antigos maçons da Inglaterra, uma vez que a origem e o berço da Maçonaria se situam naquele país, cabendo, portanto, aos novos seguir o exemplo das antigas práticas ritualistas, perpetuando-as.

Antes da união das duas Grandes Lojas rivais, a dos Modernos e a dos Antigos, muitos esforços de bastidores foram empreendidos para padronizar as formas ritualistas, ou seja, aquilo que entendemos hoje por rituais.

Em 1794 dois antigos Grão-Mestres, John IV, duque de Atthol, Grão-Mestre dos “Antigos” e George, Príncipe de Gales, Grão-Mestre dos “Modernos” solicitaram ao Príncipe Edward, mais tarde duque de Kent, Grão-Mestre dos “Antigos”, que arbitrasse o trabalho de unificação.

Em 1809 a primeira Grande Loja (dos Modernos) tomou a iniciativa, promovendo a fundação da Loja da “Promulgação” com o objectivo de estudar os Landmarks e as práticas esotéricas, para recomendar as mudanças que deveriam ser feitas no sentido de trazer os rituais a uma forma aceitável, visando de antemão a preparação para a união das Grandes Lojas rivais. Um corpo similar foi fundado pelos “Antigos”.

Em 7 de Dezembro de 1813 é criada uma loja mista: “Lodge of Reconcilition” (Loja da Reconciliação) – que harmoniza os rituais. O trabalho foi efectuado oralmente, respeitando a proibição de nada escrever a respeito do “segredo” maçónico. Nenhuma acta foi redigida, assim como foi proibido tomar notas.

A loja da “Reconciliação” passa a apresentar, na prática e oralmente, o novo ritual harmonizado para as lojas de Londres e arredores. Essas apresentações prosseguiram durante três anos ininterruptos. Desde essa data a forma ritualista praticamente foi padronizada em toda a Inglaterra.

Em Junho de 1816, as formas dos rituais para uso na nova Grande Loja foram demonstradas pela Lodge of Reconciliation, constituída especialmente para produzi-las, as quais viriam a documentar, oficialmente, numa resolução e, pela primeira vez, as Cerimonias praticadas até então.

Assim, em 1816, surge oficialmente um novo ritual, aprovado e confirmado, pela Grande Loja Unida da Inglaterra, resultado de um longo trabalho iniciado em 1794, coroado pelo “Act of Union” de 27 de Dezembro de 1813 e finalmente concluído em Junho de 1816.

Em 2 de Outubro de 1823 os membros da “Burlington Lodge”, fundada em 1810 e da “Perseverance Lodge”, fundada em 1817, reúnem-se, pela primeira, na “Emulation Lodge of Improvement for Master Masons” (Loja Emulação de Aperfeiçoamento para Mestres Maçons), com a finalidade de dar instrução, especialmente, para aqueles que entram na cadeia de sucessão e desejam preparar-se para cargos em Loja, almejando alcançar a cadeira principal de uma Loja Simbólica. Ela reúne-se no Freemasons`Hall, na Great Queen Street, em Londres, semanalmente às 18h15m, das sextas-feiras de Outubro a Junho, onde demonstram as Cerimonias e Prelecções de acordo com o Trabalho de Emulação, mas somente Mestres Maçons podem frequenta-la.

O Emulation working (trabalho em Emulação) recebeu o seu nome da Emulation Lodge of Improvement, cujo Comité é o curador do ritual, por delegação da Grande Loja Unida de Inglaterra, que autoriza a publicação do livro denominado Emulation Ritual (Ritual de Emulação).

As instruções nos anos iniciais, concentradas nos trabalhos do Primeiro Grau e preparação dos candidatos a sucessão na Cadeira da Loja, eram realizadas por meio de palestras maçónicas de acordo com o sistema da Grand Setwards` Lodge (Loja dos Grandes Provedores), cujas prelecções descrevem, em detalhe, as cerimonias. Em 1830, conforme a uma prática geral que então se havia desenvolvido, as próprias cerimónias eram também ensaiadas.

Os responsáveis pela condução da Emulation Lodge of Improvement, desde os primeiros tempos, adoptaram a postura de assegurar a prática do ritual aprovado sem permitir a sua alteração. Embora, não se possa pretender que o actual Ritual de Emulação esteja na forma exacta do ritual praticado verbalmente há quase dois séculos atrás, as Cerimonias daqueles tempos foram original e especificamente aprovadas pela Grande Loja Unida de Inglaterra, a quem cabia, única e exclusivamente, actualiza-las ou aprovar as suas actualizações. Por esse motivo, o Comité da Emulation Lodge of Improvement, sempre considerou que, por razões de confiança, deveria manter sem alteração as formas rituais completas passadas pelos seus predecessores, e que estava fora da sua autoridade fazer qualquer alteração, a menos que oficialmente sancionadas por resolução ou aceitação própria da Grande Loja da Inglaterra.

Devido ao facto de a Grande Loja considerar que o ritual não devia ser confiado a impressão, já que, como foi referido, uma das suas características era o de ser praticado de cor. A “reprodução” oral constituía o único meio oficial da sua transmissão.

Foi, apenas, em 1969 que a Loja Emulação de Aperfeiçoamento patrocinou a publicação da primeira edição do `Ritual de Emulação.

O Ritual caracteriza-se por procedimentos muito peculiares, ausentes em outros rituais, pelo despojamento de certas pompas aliado à simplicidade e singeleza, o que acaba por lhe conferir certa gravidade e um ar de sobriedade sem, todavia, torná-lo circunspecto.

Duas características deste ritual merecem ser especialmente mencionadas: a primeira é que o ritual deve ser conhecido e praticado de cor, sendo a prática do cerimonial sem alterações um aspecto determinante do rito; a segunda é que todos os trabalhos em loja só podem ser feitos à Glória do Grande Arquitecto do Universo.

Outras características deste rito são: É tradição não haver disputa de cargos, em hipótese alguma. A linha de sucessão deve ser respeitada, para que a harmonia e a união entre os irmãos seja mantida. O V.M. é o único que pode falar sentado na Loja. Os demais, falam de pé e à ordem e com o passo. As batidas são três, em todos os Graus, a diferença é no ritmo. Nenhum Oficial tem direito de reclamar promoção quando entra na linha de sucessão. Em nenhuma procissão/cortejo é permitido a algum I.`. ficar entre o V.M. e seus VV.`.. Se houver uma Ode de abertura ou música apropriada, deve ser cantada ou executada antes de abrir a Loja e se houver um de encerramento, só depois da Loja fechada. A marcha é sempre iniciada com o pé esquerdo.

Ainda que se exclua qualquer alusão confessional ou religiosa, no desenvolvimento do ritual, as invocações ao Grande Arquitecto do Universo demonstram a sacralidade deista, que em Maçonaria não é mera formalidade de princípios, mas representa o seu aspecto esotérico, que é o suporte necessário e indispensável ao aspecto esotérico deste Rito.

No Ritual de Emulação reconcilia-se a Antiga Maçonaria – com as suas conotações operativas e deístas – com a Maçonaria Moderna, teísta, e marcadamente misteriosa e esotérica. A confluência das duas correntes é a base sobre a qual se apoia a actual regularidade e a validade da Filiação e da Iniciação Maçónica, ambas de origem Andersoniana. (de James Anderson, “As Constituições de Anderson”)

Todas as Grandes Lojas e Grandes Orientes do mundo utilizam o Ritual de Emulação na Instalação dos Veneráveis de suas Lojas, qualquer que seja o Rito em que elas trabalham. Esta característica, de rígida aplicação, faz com que somente seja reconhecida a qualidade de Verenável aos Mestres que tenham sido instalados segundo o Ritual de Emulação, no qual são transmitidos a Palavra de Passe do Mestre Instalado e os correspondentes sinais de reconhecimento.

O Ritual de Emulação pertence à tradição e a todos os Irmãos que a ele se sintam ligados, por se constituir num instrumento de regularidade, e de validade iniciática e espiritual.


[1] Rito – representa as regras e cerimónias de carácter sacro ou simbólico que seguem preceitos estabelecidos e que se devem observar na prática. Em síntese representa um sistema de organizações maçónicas inseridas num determinado modelo.

[2] Ritual – representa o livro que contem o conjunto de práticas consagradas pelo uso, por normas ou ambas, e que se devem observar de forma invariável em ocasiões determinadas. Sintetizando é o cerimonial.