Rito Escocês Rectificado

O Rito Escocês Rectificado (RER), é um dos mais antigos ritos maçónicos do mundo e, desde muito cedo, tem sido sinónimo de Regularidade, como são exemplos o tratado de 1776 entre os Directórios Escoceses de França e a então potência regular francesa, ou a Loja “Union des Coeurs”, a Oriente de Genebra, que existe desde 1768 e é a mais antiga loja regular em funcionamento contínuo.

Não obstante a sua antiguidade, o RER sempre foi alvo de alguma incompreensão, em regra pelas potências irregulares, o que parece resultar da sua complexidade e das suas especificidades.

Para ajudar a uma primeira abordagem sobre o RER, aqui ficam 20 perguntas e respostas:

1 – O que é o Rito Escocês Rectificado (RER)?

O RER é um Rito maçónico. Foi estruturado em França e na Alemanha no Século XVIII, e assenta nas simbologias maçónica e cavaleiresca com uma dupla finalidade: alcançar o objectivo primitivo da Maçonaria e realizar uma beneficência activa e esclarecida.

2 – Como se define a Maçonaria para o RER?

Para o RER, a Maçonaria é uma escola de Sabedoria e de Virtude que conduz ao Templo da Verdade, sob o véu dos símbolos, aqueles que a amam e desejam.

3 – Por que razão se ouve falar, a propósito do RER, de “Rito” e de “Regime”?

Falamos de “Rito” quando nos referimos à doutrina e aos graus (como nos outros ritos) e de “Regime” quando nos referimos à própria Ordem, ou estrutura que governa o Rito.

4 – Qual é a estrutura do Regime?

O RER foi construído segundo uma arquitectura composta por anéis concêntricos, que permite a comunicação coerente da doutrina, a que chamamos classes: a Maçónica (o anel exterior), a Cavaleiresca (o anel intermédio) e a Secreta (o núcleo).

5 – Quantos e quais são os graus do RER?

O RER na actualidade está estruturado nos seis graus de Aprendiz Maçon, Companheiro Maçon, Mestre Maçon, Mestre Escocês de Santo André (a Classe Maçónica), Escudeiro Noviço e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (a Classe Cavaleiresca, que constitui a “Ordem Interior”). Historicamente são referidos mais dois graus, Professo e Grande Professo (a Classe Secreta).

6 – Como é gerido o RER?

De acordo com as regras da Maçonaria Regular, os três primeiros graus são administrados pela Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal. O quarto grau e a Ordem Interior são administrados pelo Grande Priorado Independente da Lusitânia, criado no Convento de Cristo em 1995 em cerimónia presidida pelo Grande Priorado Independente da Helvécia.

7 – Quando é que o RER surgiu?

A maçonaria rectificada nasceu formalmente em 24 de junho de 1751 na Alemanha (quando foram erguidas as colunas da Loja “Três Colunas”, em Kittlitz), mas o RER foi estruturado ao longo de várias dezenas de anos, sendo fixado nos seus termos definitivos no Convento das Gálias de 1778 (na cidade de Lyon), e no Convento de Wilhelmsbad em 1782.

8 – Quais são as suas fontes Históricas?

As fontes históricas do RER são:

I- A Estrita Observância, também conhecida como “Estrita Observância Templária”, “Maçonaria Rectificada” ou “Maçonaria Rectificada de Dresda” (por se ter desenvolvido de início nessa zona da Alemanha), sistema que defendia a restauração integral da Ordem do Templo, que resultou da transmissão em 1743, pelas casas nobres escocesas exiladas em França, da linhagem templária ao barão Karl von Hund.

II- A Maçonaria Francesa praticada no Século XVIII, que resulta de fontes inglesas, tanto anteriores como posteriores ao conflito entre “Antigos” e “Modernos”.

III- A Ordem dos Cavaleiros Maçons Eleitos Cohen do Universo, sistema ocultista assente em rituais teúrgicos, divulgado por Martinez de Pasqually, figura ainda hoje pouco conhecida, que alguns investigadores estimam ser de origem portuguesa.

9 – Quando foram fixados os rituais do RER?

Os rituais utilizados pelo RER foram fixados em 1782, no Convento de Wilhelmsbad, que foi o culminar da “rectificação”. Depois, foram completados por Jean-Baptiste Willermoz, de acordo com as instruções do Convento, num processo que durou 27 anos:

- Os rituais dos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre foram terminados em 1788, trabalhando-se com uma cópia certificada enviada em 1802 à Loja “Triple Union” de Marselha;

- O ritual de Mestre Escocês de Santo André foi terminado em 1788, tendo sido redigida uma instrução final em 1809;

- O ritual de Escudeiro Noviço foi terminado em 1790; e,

- O ritual de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa foi terminado em 1784.

Os rituais utilizados em Portugal são as traduções fiéis dos manuscritos originais, depositados na Biblioteca Municipal de Lião e na Biblioteca Nacional de França, em Paris.

Para além dos rituais, há documentos da época que são relevantes, como a “Regra Maçónica para uso nas Lojas Reunidas e Rectificadas, adoptada no Convento Geral de Wilhelmsbad, em 1782”, que a nossa Grande Loja distribui desde sempre em anexo ao ritual de Aprendiz.

Existem ainda dois Códigos e uma Regra, interessantes do ponto de vista histórico:

- “Código Maçónico das Lojas Reunidas e Rectificadas de França, tal como foi aprovado pelos deputados dos Directórios de França, no Convento Nacional de Lião, em 5778”;

- “Código Geral das Regras da Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, adoptada no Convento Nacional das Gálias, em 1778”.

- “Regra dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa”, de 1778.

10 – Quais são as fontes doutrinais do RER?

Dentro da estrutura puramente maçónica i.e. assente nas vicissitudes do Templo de Salomão e do seu construtor Hiram Abif, e sem esquecer os aspectos cavaleirescos, encontramos no RER:

I- A doutrina esotérica de Martinez de Pasqually sobre a Origem, condição actual e o destino final do Homem e do Universo, que constitui uma síntese do pensamento cabalístico judaico-cristão, do pensamento de Emmanuel Swedenborg, de Jacob Boheme e da Rosa-Cruz emergente nos séculos XVI e XVII;

II- A tradição cristã primitiva e os ensinamentos dos Padres da Igreja, sendo disso exemplo as obras de Orígenes de Alexandria;

III- A Gnose, no seu sentido mais substantivo e tradicional, tanto manifestada em antigos grupos helenistas e judaicos, como também em evoluções posteriores, nomeadamente o neo-platonismo e o sufismo.

11 – Quais são as filiações iniciáticas do RER?

O RER vê-se como estando filiado numa linhagem iniciática misteriosa ininterrupta desde o alvorecer da Humanidade e que se manifestou ao longo dos milénios em organizações humanas, umas mais e outras menos religiosas, como os Terapeutas de Fílon de Alexandria, os Essénios ou os Templários.

12 – O RER é um rito templário?

Pese embora o RER seja herdeiro espiritual da Ordem do Templo e detentor de linhagens templárias, e pese embora também se socorra da simbologia e da estrutura templárias, o RER não pretende restaurar ou vivificar essa Ordem porque está inserido na mesma linhagem iniciática e com a mesma dignidade da Ordem Templo original. Essa é a razão pela qual em 1782 se substituiu a designação do grau de “Cavaleiro Templário” por “Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa”.

13 – Quais são os mistérios da Maçonaria segundo o RER?

A origem, a fundação e os fins da Ordem. Mais do que isto, caberá a cada um descobri-lo...

14 – Como se poderão então desvendar os mistérios da Maçonaria, segundo o RER?

Para o RER, os objectivos da Maçonaria podem ser desvendados através do conhecimento e cumprimento dos deveres para com o Grande Arquitecto do Universo, do conhecimento de si mesmo e da Natureza e por fim, do conhecimento e o cumprimento dos deveres morais para com os homens.

15 – O RER é teísta ou deísta?

O RER tem características teístas e deístas, mas com maior preponderância daquelas, o que não é alheio à circunstância de o RER se assumir como integrado no espírito da Maçonaria da Antiguidade.

16 – O RER é ecuménico?

O RER, estando integrado na Maçonaria Universal e ecuménica, admite no seu seio pessoas de todas as confissões religiosas, até porque a doutrina incorporada nos seus rituais e símbolos, sendo profundamente cristã, reflecte a religião primitiva que vem acompanhando a Humanidade desde os seus alvores, onde naturalmente o cristianismo se insere.

17 – Quais são os paramentos dos maçons do RER?

Além do Avental (debruado a azul para os Mestres) e das Luvas brancas, referentes à operatividade maçónica, os Maçons do RER usam uma espada cruciforme, referente à Cavalaria e um chapéu tricórnio negro, símbolo da igualdade de todos perante o Grande Arquitecto do Universo.

18 – Quando é que o RER surgiu em Portugal?

O RER é praticado em Portugal desde 19 de Setembro de 1987, data de criação da RLFernando Pessoa, n.º 1, na altura ainda sob a jurisdição da Grande Loja Nacional Francesa. Desconhece-se, por não haver registos, se houve Lojas a praticá-lo antes.

19 – Quantas Lojas praticam o RER em Portugal?

Neste momento há nove Lojas do RER em Portugal, a maioria em Lisboa, mas também no Algarve e no Porto.

20 – O RER é praticado onde?

O RER, ainda que seja um rito minoritário no seio da regularidade maçónica, é praticado em todos os Continentes.